O arcebispo diz que falta à Câmara de Maringá vereadores que suem a camisa pela missão de legislar, fiscalizando o Executivo. "Tem gente ali que trabalha, mas também tem gente que está levando na brincadeira".
Para ele, o bom vereador é aquele que trabalha pelo bem comum, qualquer que seja o partido político. "Câmara nunca foi lugar de representantes de facções ou grupos, mas de representantes do povo".
Dom Anuar, que atendeu a O Diário, em casa, na manhã de sexta-feira, também falou sobre a união estável entre gays. Na opinião dele, essa permissão foi um vacilo do Supremo Tribunal Federal. "Eu não sou contra, cada um é responsável pelos seus atos. Eu respeito, mas não concordo". Dom Anuar diz que, pela união entre dois homens ou duas mulheres, não é possível formar família.
Douglas Marçal
"Ali [na Câmara] tem gente séria, mas também tem gente que está levando na brincadeira. A Câmara tem feito um bom trabalho, mas também tem havido deslizes e isso cria uma imagem errada e é lamentável’’.
"Nunca vou concordar, enquanto estiver nesta terra, que dois homens ou duas mulheres possam constituir família. A família é aquela que gera, portanto, é um homem e uma mulher’’.
O Diário - Porque o senhor é contra o aumento do número de vereadores?
Dom Anuar Battisti - Eu falo agora como Anuar. Sou a favor de manter os 15 [vereadores] porque acho que não é a quantidade que importa, mas a qualidade. Quinze vereadores que trabalhem para o bem comum, que busquem realmente ser legisladores. O papel é legislar, mas também vigiar o Executivo em sintonia com o Judiciário. Mais que aumentar o número de vereadores, os municípios precisam de equilíbrio entre os Três Poderes; isso é o mais importante. Sou pelos 15, mas 9, 21 ou 23 não vai resolver nada. Não se trata de números, e sim de um trabalho em vista do bem comum e onde exista esta integração entre os poderes.
O Diário - Como o senhor caracteriza o trabalho dos vereadores de Maringá?
Dom Anuar Battisti - Ausência. Essa é uma das maiores falhas. Pouco caso... Os projetos são levados pela maioria. A maioria é da situação, a maioria vota, manda e cria uma imagem errada da Câmara. Eu penso que na Câmara tem gente realmente que trabalha, que sua a camisa, que assume a missão. Não vou citar nomes, mas sei que ali tem gente séria, mas também tem gente que está levando na brincadeira. Há ausência sistemática nos trabalhos da Câmara. Quando se começa a fazer jogo de empurra-empurra, não é seriedade. Uma autoridade séria não vai fazer retaliação, nem buscar vantagem, e não vai puxar brasa pro seu assado. A Câmara tem feito um bom trabalho, mas também tem havido deslizes e isso cria uma imagem errada da Câmara. É lamentável.
O Diário - O senhor disse a O Diário, em agosto, que os vereadores fazem ‘trabalho de fachada’ em Maringá...
Dom Anuar Battisti - Ele foi eleito não para representar um partido político, não para buscar interesses de partidos ou facções. Foi eleito para trabalhar para o bem comum, independentemente do partido político. Foi eleito para isso e não para outra coisa. É isso que precisa ser resgatado de novo na Câmara.
O Diário - O senhor apoia a campanha da sociedade contra o aumento?
Dom Anuar Battisti - A sociedade tem se manifestado, as estatísticas provam que 92% da população é contra o aumento. A sociedade precisa participar não só agora, mas durante o ano todo, acompanhando projetos, votações, indo à Câmara, marcando presença. Esse é o papel da população. Sou a favor de que haja essa mobilização, sempre pacífica, é claro. Sou contra qualquer manifestação radical. O radicalismo só traz danos, mas a população tem que se manifestar, sim, é papel dela.
O Diário - No geral, qual é a opinião da Igreja Católica de Maringá sobre o tema?
Dom Anuar Battisti - São divergentes. Existem pessoas favoráveis à manutenção dos 15 e há aqueles que são favoráveis ao aumento em vista da representatividade da população. Essa representatividade também é muito relativa. A Câmara não é um lugar para representar ninguém, é para trabalhar pelo povo. Senão, daqui a pouco vamos ter que eleger um vereador para representar os afro-brasileiros, outro para representar os nipo-brasileiros, as etnias, as culturas, os grupos. Daqui a pouco tem vereador para representar os gays ou sei lá quem. Câmara nunca foi lugar de representantes de facções ou grupos, mas, de representantes do povo.
O Diário - A divergência de opiniões é entre padres?
Dom Anuar Battisti - São lideranças em geral: padres, líderes da comunidade e leigos. Eles interpretam a Câmara como a grande vigilante do poder público. Existe Observatório Social, Observatório das Metrópoles e vários organismos que vigiam o poder público, mas a Câmara também tem a função de acompanhar o Executivo. Pensa-se que o maior número de vereadores possa ter maior vigilância sobre o Executivo, mas não significa isso. Se querem fazer trabalho sério, fazem independentemente do número. Penso que não é quantidade, mas qualidade.
Dom Anuar Battisti - Esse jogo de números é mais interesse político que qualquer outra coisa. Isso interessa ao partido político e mais que tudo aos candidatos a prefeito porque cada vereador é um cabo eleitoral. Quanto mais vereadores, mais cabos eleitorais trabalhando para os candidatos. Hoje, em Maringá [essa discussão], é uma disputa de partido político. A opinião da população vai entrar como grande fator aí no meio e vai depender do discernimento dos escolhidos pela população de ouvir ou não a voz do povo. A voz do povo é a voz de Deus e se não ouvem a voz do povo, não estão ouvindo a voz de Deus.
O Diário - Há influência da opinião do senhor, como bispo, no modo de pensar dos padres? A igreja determinou uma linha ou cada um é livre para opinar?
Dom Anuar Battisti - Cada um é livre e primamos muito pelo diálogo. A diversidade de opiniões enriquece o debate e depois deixamos livre para cada um fazer sua escolha. Quando eu falo em 15, estou falando em meu nome. A igreja não tem um consenso sobre o assunto.
O Diário - Mudando de assunto, foi realizado em Maringá, no dia 6, um casamento gay. Qual a sua opinião sobre a união homoafetiva?
Dom Anuar Battisti - O Supremo Tribunal Federal pisou na bola e assumiu a vez do Legislativo. Os ministros do Supremo legislaram para um País. Eles foram escolhidos por uma pessoa, nós não votamos na eleição deles. Os mais de 130 milhões de eleitores não foram ouvidos porque o Poder Legislativo não teve vez de opinar sobre isso. A Constituição permite à Câmara dos Deputados, se tivesse um pouco mais de coragem, no artigo 49, inciso 11, sustar qualquer invasão de seus poderes por qualquer outro Poder contando com a garantia das Forças Armadas. O Congresso foi omisso e deixou prevalecer uma decisão do Supremo Tribunal. Criaram uma lei, legalizando o casamento homossexual. Eu não sou contra a união, a amizade, a escolha de cada um.
O Diário - Como assim?
Dom Anuar Battisti - Cada um é responsável pelos seus atos e vai responder por eles. Nunca vou concordar, enquanto estiver nesta terra, que dois homens ou duas mulheres possam constituir família. A família é aquela que gera, portanto, é um homem e uma mulher. Dois homens ou duas mulheres nunca terão uma prole. Um homem e uma mulher que não podem ter filhos podem adotar uma criança, que terá carinho do pai e da mãe. O carinho de mãe é único e o pai nunca vai, em nenhuma situação, por mais afetivo e carinhoso que seja, suprir a necessidade da mãe. Mesmo os casais homossexuais adotando filho, ele vai ser criado com amor, mas nunca o amor de pai e mãe. Isso acontece também nos casais ‘normais’ quando um dos dois é omisso na educação dos filhos. Eu não sou contra, cada um é responsável pelos seus atos. Eu respeito, mas não concordo.
O Diário - Há falta de novos padres? Como a igreja enfrenta esse problema?
Dom Anuar Battisti - Na igreja do Brasil, temos 18 mil padres. Existe mais uma falta de distribuição do clero do que propriamente uma falta. Como diminuiu a população na zona rural, consequentemente os padres vieram para a cidade. Temos muitos sacerdotes professores, que não trabalham só em paróquias, mas também na educação. Vamos sempre sentir a falta do padre. Nunca vamos ter padre sobrando. [A igreja] é a única empresa que tem emprego garantido e estabilidade para o resto da vida. Estamos com 32 seminaristas jovens fazendo Filosofia e Teologia no seminário em Maringá. É um número satisfatório para a nossa realidade de 28 municípios, 55 paróquias e 700 mil habitantes. E também estamos com 17 candidatos se preparando para entrar no seminário no ano que vem.
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