Na noite de ontem, enquanto travestis e prostitutas se posicionavam embaixo dos postes de luz da Avenida Brasil, rodinhas se formavam nos cantos mais escuros da Praça Renato Celidônio e ruas próximas. As vestes são padrão: agasalhos, a maioria com capuzes, e as mãos escondidas sob a blusa.
As demais pessoas que caminhavam pela rua, saindo do trabalho ou indo para a aula, usavam roupas de manga curta. "Onde a turma se junta à noite para fumar é perto da banca de revistas", aponta o funcionário de uma lanchonete. Não era o caso.
Entre as 19h30 e 21 horas, a reportagem rodou o Centro e não encontrou nenhuma viatura da Polícia Militar. Na Praça Raposo Tavares, uma equipe da Secretaria de Saúde estacionou uma Kombi e oferecia atendimento para o público. "São muitos os machucados, tem gente até sem pedaço da orelha. é grande a violência causada pela droga", disse uma assistente social, que não deu o nome – entrevistas, só com autorização de superiores, justificou.
O serviço de atendimento ambulatorial a moradores de rua e usuários de drogas acontece duas vezes por semana. Assim como no caso da assistência social, só recebe atendimento quem aceita a ajuda.
Entre os assistidos pela equipe da prefeitura estava um homem de cadeira de rodas, com o pé enfaixado, que não quis muita conversa. "Não bato foto minha não, que eu já tô muito queimado", disse.
RotinaO Diário retornou ontem à Praça Raposo Tavares. Novamente a presença da reportagem, que observava toda movimentação de perto, não foi suficiente para inibir a atividade. "Pode fotografar. O crack tá liberado. Tá tudo dominado", disse, em alto e bom som, uma jovem que consumia crack rente à mureta do teatro de arena.
Ao perceber que estava sendo observada, uma traficante se aproximou e ofereceu uma porção de crack ao repórter, que não estava à procura de droga, mas iniciou uma conversa com ela, perguntando onde ela morava. "Sou de São Paulo, estou aqui há apenas dois meses", respondeu a mulher, que informou ainda vender até 80 pedras da droga num único dia.
Na mesma praça, um rapaz moreno, aparentando cerca de 20 anos, também se aproximou e perguntou se a reportagem era de O Diário. Diante da resposta afirmativa, chamou o repórter até uma banca e apontou o dedo para a capa do jornal de terça-feira passada, na qual aparece um grupo consumindo crack.
"Você sabe quem são essas pessoas?, perguntou ele. Apesar de os rostos estarem distorcidos, de forma a impedir o reconhecimento, apontei ele na foto. "Então, veio, é nóis mesmo. Nóis é tudo usuário (sic). Pra que escrachar a gente?", disse ele, exibindo um sorriso sem graça.
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