quarta-feira, 27 de julho de 2011

Maringá tem cada vez menos casas próprias

Em 10 anos, a porcentagem de pessoas que moram em casa própria em Maringá encolheu, enquanto a proporção de imóveis locados disparou. O resultado é que hoje a cidade conta com o maior porcentual de domicílios alugados e um dos menores índices de casas próprias entre os 399 municípios do Paraná.
De acordo com o Censo 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de um total de 116.794 domicílios em Maringá, 59% são ocupados pelos próprios donos. Outros 32% são alugados – os demais são cedidos ou possuem outro tipo de ocupação.
O baixo índice de domicílios próprios é menor do que o registrado no Distrito Federal, unidade da Federação onde há a média mais baixa de moradores em casas próprias.
Quem migrou de uma condição para outra nesse período foi o assessor parlamentar Luiz Fernando Silva. Ele tinha um apartamento na Avenida Nildo Ribeiro da Rocha.Vendeu para comprar meio terreno e construir uma casa, mas o dinheiro não foi suficiente.
A obra está incompleta e nos últimos anos ele gasta R$ 700 de aluguel por mês em uma casa também de meio terreno no Jardim Leblon. "E agora a tendência é piorar, porque estão mudando as leis. Vai ter menos casa", diz.
No mesmo bairro, mora a psicóloga Leila Maria, que há 6 anos deixou o aluguel. Isso porque, segundo ela, o antigo proprietário estava precisando de caixa e vendeu o imóvel abaixo do preço de mercado.
"Foram necessários sacrifícios, mas foi um excelente negócio para a época", lembra. Ela estima que hoje o valor do imóvel é quatro vezes superior ao que pagou, valorização acima da inflação, que tornaria o preço impeditivo se ela estivesse procurando uma casa hoje.

Falta de terrenos
Em 2000, 64% dos domicílios de Maringá eram próprios, enquanto que 23% eram alugados. A queda no número de moradores em casas próprias e o avanço dos inquilinos seria um reflexo da falta de terrenos, avalia o presidente do Sindicato da Habitação (Secovi), Téo Granado.
"A administração foi bem intencionada em liberar regiões para construir prédios, implantar o IPTU Progressivo, mas ainda faltam terrenos. O mais barato que você encontra está na casa de R$ 70 mil", diz. "Um colega meu lançou um loteamento em Floresta, com lotes a R$ 40 mil. Disse que 90% dos compradores são de Maringá, porque não conseguem comprar aqui", relata.
A queda de domicílios próprios em Maringá está acima da média nacional. Segundo o censo, entre 2000 e 2010 o número de moradias próprias caiu de 74% para 73% no País. Já o número de imóveis alugados subiu de 14% para 18% em igual período na média nacional.
Rafael Silva
Silva vendeu apartamento para construir casa; dinheiro foi insuficiente
A socióloga Ana Lúcia Rodrigues da Silva, coordenadora do Observatório das Metrópoles, diz que a situação em Maringá não foi mais grave pelo "jeitinho brasileiro". Até 2009, terrenos de novos loteamentos eram divididos ao meio pelos compradores – o lote mínimo permitido na cidade é de 300 metros quadrados.
"Na cultura do brasileiro, a casa própria é o sonho de vida, e Maringá não oferece isso. Seria ainda muito maior o número de pessoas morando de aluguel se não fossem as casas geminadas", diz.

Comparativo
Em um intervalo de 10 anos, as duas maiores cidades do Paraná não registraram mudança tão brusca como em Maringá na proporção entre moradias próprias e alugadas. Em Curitiba, 72% dos domicílios são próprios, dois pontos porcentuais a menos que em 2000.
Já os alugados chagaram a 21%, três pontos porcentuais de aumento. Em Londrina, as moradias próprias caíram de 68% para 66%, enquanto que as alugadas foram de 18% para 24%.
O economista Neio Lúcio Peres Gualda, professor da UEM, atribui o aumento de domicílios locados ao fato de Maringá ser polo universitário e ao preço dos lotes. "Maringá foi uma das primeiras cidades que passou a exigir toda a infraestrutura para autorizar um loteamento. Isso encareceu os terrenos",diz.
O secretário municipal de Habitação,Gilberto Delgado, diz que as opções de moradias devem aumentar nos próximos anos, devido à implantação do IPTU Progressivo e liberação de novas áreas para verticalização.
Mas a situação, hoje, dificulta até a construção de moradias populares. "Temos dificuldade em fazer moradias pelo ‘Minha Casa’, devido ao preço dos lotes", admite.
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