domingo, 31 de julho de 2011

Quase 20% dos moradores de rua recusam ajuda oficial

O morador de rua Elias, que não quis dizer seu sobrenome, estava dormindo em um colchão na Rua Santo Antônio, na Vila Santo Antônio, em Maringá, por volta das 7h quando a reportagem o abordou. Segundo moradores da região, ele fica ali todos os dias e passa boa parte do tempo usando drogas.
Elias contou que já foi procurado por funcionários da Secretaria de Assistência Social e Cidadania (Sasc), mas não quis ajuda. "Prefiro ficar na rua. Eles não me oferecem nada melhor do que eu tenho aqui", afirma.
Douglas Marçal
Elias no colchão em calçada na Rua Santo Antônio. Ele já recusou atendimento. "Prefiro ficar na rua"
Elias relatou também que durante o dia cuida dos carros e com o dinheiro ganho como flanelinha compra comida. O morador de rua, que nasceu em Maringá, acha que deve ter cerca 60 anos. "Não fico só nesse local. Durmo em outros lugares. A única coisa que eu não quero é sair de Maringá."
A opção de permanecer na rua não é novidade para os funcionários do Serviço de Atendimento à População de Rua da prefeitura. De acordo com o coordenador do Centro de Referência de Especialidades da Assistência Social (Creas) – População de Rua, Adauto Cezário da Silveira, aproximadamente 20% das pessoas que recebem atendimento recusam a ajuda ou posteriormente retornam para as ruas.
Um levantamento feito pela Sasc mostra que no primeiro trimestre de 2011, 1.291 pessoas foram atendidas com abordagem, encaminhamento para entidades assistenciais e com passagens para retornarem à cidade de origem.
Desse total, 37 foram incluídas no atendimento a pessoas em situação de vulnerabilidade social e 267 encaminhados para a rede socioassistencial. O relatório também mostra que 192 moradores de rua recusaram terminantemente a ajuda e 37 saíram do local para onde foram encaminhados.
O secretário da Assistência Social, Ulisses Maia, explica que a maioria dos moradores que recusa o atendimento é dependente químico. "Eles ficam à noite toda usando crack, dormem um pouco e começam a fazer alguma coisa para conseguir dinheiro e comprar mais droga", relata.
Para Maia, o grande problema é a ajuda das pessoas aos moradores de rua. "Muita gente sente pena desses usuários e acabam ajudando com dinheiro. Na verdade, eles estão financiando o narcotráfico na cidade", enfatiza.
O secretário também afirma que a cidade possui estrutura adequada para acolher esses moradores. "Os serviços que a Sasc e as entidades assistenciais oferecem são suficientes para tirar essas pessoas das ruas. O Portal da Inclusão (casa mantida pela prefeitura para reintegrar moradores de rua à sociedade) tem capacidade para 10 moradores e só cinco estão sendo atendidos", exemplifica.
Pesquisa
Pessoas atendidas nas ruas no
primeiro trimestre de 2011

Crianças de 0 a 6 anos 13
Crianças de 7 a 13 anos 21
Adolescentes de 14 a 17 anos 12
Jovens de 18 a 29 anos 303
Adultos de 30 a 59 anos 622
Idosos acima de 60 anos 34
Famílias 14

Fonte: Sasc

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