sábado, 27 de agosto de 2011

Previdência cresce 25,6%

A massoterapeuta Ana Lúcia Soares Lima, 49 anos, pretende trabalhar por muitos anos, mas nunca deixou de fazer provisões para a velhice. Clientes não faltam no momento. Em média, são 10 pessoas por dia, de segunda a sábado, em busca de massagem terapêutica, estética, quiropraxia e técnicas holísticas. Divorciada e sem filhos, Ana Lúcia sabe que depende apenas de seu próprio esforço e poupança para viver confortavelmente na terceira idade.
Desde que começou a trabalhar, ela contribuiu durante 29 anos e 5 meses para o sistema público de previdência – o INSS - Para um fundo privado de uma empresa pública paulista, ela faz depósitos desde 1985, quando entrou na empresa. Ana continuou contribuindo mesmo depois de deixar o emprego, em 1997.
A partir de 2004, a massoterapeuta faz saques de R$ 1.000 por mês nos dois sistemas, mas continua depositando mensalmente no fundo privado.
"Não dá para ter certeza se o governo será capaz de honrar todos os pagamentos daqui a 10 ou 20 anos", avalia. "Hoje todas as minha amigas já fazem previdência privada".
Aos poucos, o brasileiro muda o perfil de consumismo imediato para o de poupador previdente. Prova disso é o aumento de 25,6% nos depósitos em fundos de previdência privada no primeiro semestre deste ano.
A recente instabilidade internacional, que derrubou bolsas de valores, fez com que os investidores direcionassem seus recursos para aplicações mais seguras. Isso aumentou a captação da previdência em junho.
Para o economista Natalino Henrique de Medeiros, do departamento de Economia da Universidade Estadual de Maringá (UEM), o comportamento econômico do brasileiro está se tornando cada vez mais racional.
"As pessoas estão se conscientizando que o sistema público mal consegue dar conta da saúde preventiva e que pode ter problemas para garantir uma aposentadoria segura", analisa.
Ele afirma que elevação da renda do brasileiro nos últimos anos contribui para a expansão dos planos privados de previdência. "Também tem a adesão de profissionais autônomos e trabalhadores informais, que não contam com a previdência pública".
Ana Lúcia tem plano privado desde 1985: "Não dá para ter certeza que o governo vai honrar os pagamentos"
Resultados
Líder no mercado de previdência privada, a Bradesco Vida e Previdência encerrou o primeiro semestre deste ano com receita de R$ 8,641 bilhões, crescimento de 36,2% em relação aos seis primeiros meses de 2010.
"Acreditamos que teremos, ao menos, mais 5 anos de forte crescimento do setor, pois nunca tivemos tantos acontecimentos e sentimentos positivos que despertem o interesse do brasileiro em investir no longo prazo", diz o diretor-presidente da seguradora, Lúcio Flávio de Oliveira.
A maior procura pela previdência reduziu o valor da contribuição média de ingresso nos plano do banco. A idade média dos participantes também diminuiu. "Desde 2009, o valor do tíquete médio no VGBL (Vida Gerador de Benefício Livre) teve uma redução de 14,7%. Ao mesmo tempo que participantes com mais recursos vêm aumentando suas contribuições, há mais pessoas participando de nossos planos, com destaque para jovens profissionais", comenta.
A Caixa Vida & Previdência faturou R$ 1,9 bilhão no primeiro semestre do ano, crescimento de 8,4% em relação ao mesmo período de 2010. Na região noroeste do Paraná, o crescimento ficou acima da média nacional.
"No primeiro semestre realizamos em torno de R$ 30 milhões em planos individuais de previdência. Este crescimento se deve principalmente a uma crescente preocupação dos brasileiros com sua aposentadoria", diz o gerente regional da Caixa, Jair Bertoco.
Outro perfil de investidor que vem crescendo nesses planos: pessoas que desejam constituir uma reserva para aquisição ou realização de um sonho no futuro, como estudo dos filhos, imóvel ou viagem.
"Isso tem ocorrido por conta do bom momento que vivemos na economia nacional, com baixo índice de desemprego, estabilidade econômica e ganhos reais no salário", avalia Bertoco.
O Diário entrou em contato com os demais bancos que ocupam a liderança no mercado de previdência, mas não houve retorno até o fechamento desta edição.
Opiniões
Gilmar Paganini, 50
anos, autônomo
"Só conto com o INSS
mesmo. Nunca pensei
em fazer previdência
privada"
Arthur Henrique, 19
anos, cobrador
"Sim, comecei uma
poupança esta semana
mesmo, para garantir
meu futuro"
Thaís Regina, 20 anos,
estudante
"Ainda não tenho
guardado dinheiro, mas
pretendo fazer isso no
futuro"
Ricardo Neker, 33 anos,
impressor gráfico
"Não faço nenhum tipo
de poupança ou
previdência e sequer
parei para pensar nisso"
Denise Polsaque, 31
anos, encadernadora
"Não sobra nada no
ordenado, mas quando
eu tiver condições, vou
fazer
Serviço
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Quem quiser pode fazer uma simulação (com base no quanto quer receber no futuro) em www.maisdinheiro.com.br
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Entrevista

Pelo fim do fator previdenciário

Poucos trabalhadores sabem fazer o cálculo para descobrir quanto tempo falta para se aposentar e qual será o valor do benefício. A culpa é de uma formula complexa, chamado fator previdenciário (FP), adotada em 1999.
O advogado maringaense especializado em questões trabalhistas e previdenciárias Antônio Marcos Rodrigues exemplifica como a adoção dessa fórmula mudou drasticamente as regras do jogo.
"Antes de 99, um segurado com 55 anos de idade e 35 anos de contribuição, com média de R$ 1 mil nas últimas 36 contribuições, receberia benefício de 100%, ou seja, R$ 1 mil por mês", explica Rodrigues.
"A partir de 99, o valor é obtido através do cálculo de 80% das maiores contribuições atualizadas a partir de julho de 1994", compara. Neste caso, o benefício seria de aproximadamente 72%, ou R$ 720 por mês.
Nesta entrevista, o advogado explica porque muitas entidades e congressistas defendem o fim do FP no Brasil.
O Diário - Que fatores entram no cálculo da aposentadoria?
Antônio Marcos Rodrigues - O cálculo leva em consideração vários requisitos, como tempo de contribuição, idade e expectativa de vida no momento da obtenção do benefício. Com a justificativa do governo de que o sistema previdenciário entraria em colapso, mantém-se essa regra. Não existe idade mínima para se aposentar.
Atualmente, a expectativa de vida brasileira é de 73,2 anos. Por isso, o governo quer que o segurado contribua por mais tempo e obtenha sua aposentadoria quando estiver mais velho.
Quanto menor a idade do segurado na data de aposentadoria, maior será sua expectativa de vida. Consequentemente, o FP será menor e como resultado, o valor da aposentadoria também será também menor.

O Diário - O senhor concorda com o fim do FP?
Antônio Marcos Rodrigues - Concordo. Existe um clamor dos segurados para o fim do FP, sem exigência de idade mínima e quando a pessoa comprovasse os 35 anos de contribuição, para o homem, e 30 anos para a mulher.
Há também nova proposta do governo que poderá ser votada ainda este ano no Congresso Nacional para que o trabalhador contribua por mais 7 anos. Essa visão é divergente de algumas centrais sindicais, que defendem a aplicação do fator 85/95.
A imprensa explora que o cofre da Previdência não suporta o pagamento de benefícios em que o segurado permanece por muitos anos recebendo. Segurados que iniciaram suas atividades muito cedo, aos 18 anos, completam 35 anos de contribuição aos 53. Nesse caso, receberá benefício por mais de 20 anos, podendo ainda ser convertido em pensão com a morte do segurado.
A questão é muito mais complexa que apenas definir idade mínima e tempo maior de contribuição, como deseja o governo. A solução está nas revisões das fontes de custeio, na regulação dos diversos assistencialismos, além da falta de controle das contra públicas e diversas irregularidades no uso do dinheiro público.
O Diário - Sem o FP, como seriam regidos aspectos como o tempo de contribuição e definição do valor do benefício?
Antônio Marcos Rodrigues - Há duas possibilidades. Extinguir o FP e seguir a regra onde o segurado receberia 100% quando completasse 35 anos de contribuição (30 anos para a mulher), sem a exigência da idade mínima. Ou, então, usar o fator 85/95, que pode ser mais viável para garantir a sustentabilidade das contas da Previdência Social.
Nesse caso, o segurado receberia 100% da média de remunerações,no entanto seguindo a regra em que a soma da idade mínima e o tempo de contribuição necessário resulte em 85 anos para as mulheres e 95 anos para os homens.

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